sábado, 27 de agosto de 2011

O QUE O ESPIRITISMO É; O QUE O ESPIRITISMO NÃO É (Parte I)


Quem pretendesse fazer milagres pelo Espiritismo não passaria de ignorante

Nunca exista entre vós quem consulte adivinhos, quem
observe sonhos e agouros, quem use de malefícios, sortilégios,
encantamentos, ou consultem os que têm Espírito pitônico
e se dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos.
                                      - Deuteronômio, 18:10 e 12.

Algumas criaturas fanáticas e ingênuas, transidas de felicidade, utilizam-se dessas assertivas do Deuteronômio, pensando, com isso, lançar a definitiva e inapelável "pá de cal" no Espiritismo.   Como poderia Moisés, proibir algo que só nasceria milhares de anos depois de sua época?   Se ele profligou a comunicação com os mortos tinha lá os seus motivos que mostraremos mais adiante.    Por outro lado, ele mesmo, o próprio Moisés, revogou, de forma inarticulada, tal lei, ao manifestar-se a Jesus em Espírito, juntamente com Elias, no Monte Tabor, tendo tal fato como testemunhas Pedro, Tiago e João.
Se o Espiritismo se enquadrasse na proibição de Moisés, qual seria o sentido e valor destas palavras do Evangelho: (Atos, 2:17 e 18).
- "Eu repartirei meu Espírito por toda a carne: - Vossos filhos e filhas profetizarão; os jovens terão visões e os velhos terão sonhos. Nesses dias repartirei meu Espírito por todos os meus servidores e servidoras, e eles profetizarão”.
Se o Espiritismo estivesse incurso na proibição de Moisés, por que João, o Evangelista, recomendaria mais tarde (?): "Não   creiais   em   todos   os    Espíritos.   Experimentai  se  os Espíritos são de Deus." (João,  Epístola  1ª, 4:1).
Necessário   não   confundir  a   lei   civil   e transitória  criada por Moisés, própria e adequada para reger  os destinos  daquele  povo insubmisso, com a Lei  Divina  e Eterna  que  rege de forma imutável o destino  da  Humanidade  de todos os tempos...
Hoje,  com  as  luzes  da  Ciência  e  com  o esclarecimento  Espírita, sabemos que os Espíritos são  as  almas dos  mortos  e não os evocamos senão para receber  conselhos  dos  bons,  moralizar os maus e relacionar com os seres amados.
Para   abonar   nosso   raciocínio podemos  recorrer aos ensinamentos de Allan Kardec,  exarados  no livro  básico  do Espiritismo intitulado "O  Céu  e  o  Inferno" , mormente  nos capítulos X e XI da primeira parte, onde entre outras  colocações extremamente esclarecedoras, propõe:   “(...)   A   mais  essencial  de   todas   as disposições  para  evocar  é o  recolhimento,  quando  desejarmos tratar  com Espíritos sérios”.   Com a fé e o desejo do bem,  mais aptos  nos tornamos para evocar Espíritos Superiores.    Elevando nossa  alma  por alguns instantes de concentração no  momento  de evocá-los, identificamo-nos com os bons Espíritos, predispondo  a sua vinda .
-  Nenhum  objeto, medalha ou talismã  tem  a propriedade  de atrair ou repelir Espíritos, pois a matéria  ação alguma exerce sobre eles.   Nunca um bom Espírito aconselha  tais absurdos.   A virtude dos talismãs só pode existir na  imaginação de  pessoas simplórias.  (Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo "in fine").
-  Não há fórmulas sacramentais  para  evocar Espíritos.    Quem quer que pretendesse estabelecer uma  fórmula, poderia ser tachado de usar de charlatanismo, visto que para  os Espíritos  puros a fórmula nada vale.   A evocação  deve,  porém, ser  feita sempre em nome de Deus.  (Vide "O Livro  dos  Médiuns”, 2ª parte, cap. XVII).
-  Os Espíritos que prefixam  entrevistas  em lugares  lúgubres e a horas indevidas, são os que se  divertem  à custa de quem os ouve.   É sempre inútil e muitas vezes  perigoso ceder a tais sugestões.  Inútil porque nada se ganha além de  uma mistificação,  e  perigoso,  não pelo mal  que  possam  fazer  os Espíritos, mas pela influência que tais fatos podem exercer sobre cérebros fracos1.
-  Não há dias nem horas  mais  especialmente propícios  às  evocações.    Isso, como tudo que  é  material,  é completamente   indiferente   aos   Espíritos,   além   de    ser supersticiosa  a  crença em tais influências.  Os  momentos  mais favoráveis são aqueles em que o evocador pode abstrair-se  melhor das suas preocupações habituais, calmo de corpo e Espírito¹.
 Se os que falam  do  Espiritismo, sem  conhecê-lo,  procurassem  estudá-lo, poupariam trabalhos de imaginação e alegações que só servem  para demonstrar a sua ignorância e má vontade.  Para  conhecimento  das pessoas  estranhas  à ciência,  diremos  que  não há horas  mais  propícias,  umas  que outras,  como  não  há dias nem lugares, para  comunicar  com  os Espíritos.    Diremos  mais:  que não há  fórmulas  nem  palavras sacramentais   ou  cabalísticas  para  evocá-los;  que   não   há necessidade alguma de preparo ou iniciação; que é nulo o  emprego de  quaisquer  sinais  ou objetos  materiais  para  atrai-los  ou repeli-los, bastando para tanto o pensamento; e, finalmente,  que os  médiuns recebem deles comunicações sem sair do estado normal, tão  simples  e  naturalmente como se  tais  comunicações  fossem ditadas  por  uma pessoa vivente.     o  charlatanismo  poderia emprestar  às  comunicações formas  excêntricas,  enxertando-lhes ridículos acessórios. (Vide "O Que é o Espiritismo", Capítulo II, nº 49).
- O futuro é vedado ao homem por princípio, e só  em casos raríssimos e excepcionais é que Deus faculta  a  sua revelação.     Se  o  homem  conhecesse  o  futuro,   por   certo negligenciaria   o   presente  e  não   agiria   com   liberdade.   Absorvidos  pela  ideia  da fatalidade de  um  acontecimento,  ou procuramos conjurá-lo ou não nos preocupamos com ele.   Deus  não permitiu que assim fosse, a fim de que cada qual concorresse para a realização dos acontecimentos mesmos, que porventura  desejaria evitar.   Ele permite, no entanto, a revelação do futuro,  quando o  conhecimento prévio de uma coisa não estorva, mas  facilita  a realização,  induzindo a procedimento diverso do que se teria  em tal  circunstância.  (Vide "O Livro dos  Espíritos",  parte  3ª., capítulo X).
- Os Espíritos não podem guiar as descobertas nem  investigações científicas.   A Ciência é obra do gênio e  só deve  ser  adquirida pelo trabalho, pois é por este que  o  homem progride.    Que mérito teríamos nós se, para tudo saber,  apenas bastasse interrogar os Espíritos?   Por esse preço, todo  imbecil poderia  tornar-se  sábio.    O mesmo  se    relativamente  aos inventos  e descobertas da indústria.   Chegado que seja o  tempo de  uma  descoberta,  os Espíritos  encarregados  da  sua  marcha procuram  o homem capaz de levá-la a bom termo e inspiram-lhe  as ideias  necessárias, isto de molde a não lhe tirar  o  respectivo mérito,  que está na elaboração e execução dessas ideias.   Assim tem  sido com todos os grandes trabalhos da inteligência  humana.   Os Espíritos deixam cada indivíduo na sua esfera: do homem apenas apto  para lavrar a terra não fazem depositários dos segredos  de Deus,  mas  sabem arrancar da obscuridade aquele  que  se  mostra capaz  de  secundar-lhes  os desígnios.   Não  vos  deixeis, dominar pela ambição e pela curiosidade, em  terreno alheio  ao Espiritismo, que tais fitos não tem, pois com eles  só conseguireis as mais ridículas mistificações. (Vide "O Livro  dos Médiuns", 2ª. parte, cap. XXVI).
-  Os  Espíritos não podem concorrer  para  a descoberta de tesouros ocultos.   Os superiores não se ocupam  de tais  coisas e só os zombeteiros podem entreter-se com  elas,  já indicando tesouros que o mais das vezes não existem, já apontando sítios  diametralmente opostos àqueles em que realmente  existem.   Esta circunstância tem, contudo, uma utilidade, que é a de mostrar que   a  verdadeira  fortuna  reside  no  trabalho.    Quando   a Providência  tem destinado a alguém quaisquer  riquezas  ocultas, esse alguém as encontrará naturalmente; do contrário não,  nunca. (Vide "O Livro dos Médiuns", 2ª. parte, cap. XXVI).
- Esclarecendo-nos sobre as propriedades  dos fluidos - agentes e meios de ação do Mundo Invisível constituindo uma  das forças e potências da Natureza - o Espiritismo nos dá  a chave de inúmeros fatos e coisas inexplicadas e inexplicáveis  de outro modo, fatos e coisas que passaram por prodígios, em  outras eras.    Do mesmo modo que o magnetismo, ele nos revela uma  lei, senão  desconhecida,  pelo menos incompreendida, ou  então,  para melhor dizer, efeitos de todos os tempos conhecidos, pois que  de todos os tempos se produziram, mas cuja lei se ignorava e de cuja ignorância   brotava   a  superstição.    Conhecida   essa   lei, desaparece  o maravilhoso e os fenômenos entram para a ordem  das coisas  naturais.    Eis  por  que  os  Espíritos  não   produzem milagres,  fazendo  girar as mesas ou escrever  os  mortos,  como milagre  não  faz o médico em restituir à vida o moribundo.
Quem   pretendesse   fazer   milagres    pelo Espiritismo   não  passaria  de  ignorante,  ou  então  de   mero prestidigitador. ("O Livro dos Médiuns" 1ª. parte, cap. II).
Pessoas há que fazem das evocações uma  ideia muito  falsa:  há mesmo quem acredite que os mortos  evocados  se apresentam  com  todo  o  aparelho  lúgubre  do  túmulo.     Tais suposições  podem ser atribuídas ao que vemos no teatro ou  lemos nos  romances  e  contos fantásticos,  onde  os  mortos  aparecem amortalhados com o chocalhar dos ossos.  O Espiritismo, que nunca fez milagres, também não  faz  esse, pois que jamais fez reviver um corpo  morto.    O Espírito  fluídico,  inteligente, esse não baixa à  campa  com  o grosseiro  invólucro,  que lá fica  definitivamente.    Separa-se dele  no  momento da morte, e nada mais têm de  comum  entre  si. ("O Que é o Espiritismo", cap. II, nº. 48).
Ampliamos essas citações para mostrar que  os princípios do Espiritismo não têm relação alguma com os da magia.   Assim,  nem  Espíritos  às ordens dos homens;  nem  meios  de  constrangê-los; nem sinais ou fórmulas cabalísticas; nem descobertas de  tesouros; nem processos para enriquecer, e tampouco  milagres ou prodígios, adivinhações e aparições fantásticas: nada,  enfim, do  que constitui o fim e os elementos essenciais da  magia.    O Espiritismo   não    reprova  tais  coisas  como  demonstra   a impossibilidade  e ineficácia delas.   Não há, afirmamo-lo  ainda uma vez, analogia alguma entre os processos e fins da magia e  os do  Espiritismo; só a ignorância e a má-fé poderão  confundi-los...   “Dessa  forma,  tal  erro  não pode prevalecer,  uma  vez  que  os princípios  espíritas  não  se  furtam  ao  exame,  e     estão formulados inequívoca e claramente para todos”.

Rogério Coelho 


1- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XXV.

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