terça-feira, 26 de julho de 2011

DISCERNIMENTO: Se conseguimos identificar as necessidades alheias é porque já podemos auxiliar

“Examinai tudo; retende o bem.”
- Paulo. (Tess., 5:21.)

A palavra “discernimento” originária do latim “discernere”, soa como vocábulo criado recentemente, mas, deparamo-lo frequentemente no Velho Testamento. O próprio rei Salomão¹, do pedestal de sua tão decantada sabedoria, exorava ao Senhor para que desse a ele próprio “um coração entendido para julgar a Seu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal.” Também encontramo-la em Ezequiel (22:22); em Jonas (4:11); em 2 Samuel (19:35) e no Eclesiastes (8:5).
Jesus proclamou²: “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”.
O exegeta descuidado, analisando este texto de maneira superficial, não atenta para a lição que transcende a letra que mata, não concluindo, portanto, que Jesus nos concita à benevolência e ao justo discernimento ao julgar os semelhantes, visto que nossos atos e palavras são sementeiras plasmadoras de nosso futuro ditoso ou inditoso, ensejando nosso enquadramento nas malhas da Lei de Causa e Efeito. A fraternidade, portanto, deve comandar o carro de nossas conceituações, em especial na vida de relação.
Recorda-nos Emmanuel: “Se já conseguimos discernir o bem do mal, é que já conhecemos o bem e o mal, e se o Senhor nos permite identificar as necessidades alheias é porque, de um modo ou de outro, já podemos auxiliar. Quanto maior a nossa capacidade de discernimento, mais vasto o nosso débito”, vez que muito será exigido daquele que muito recebeu.
E Joanna de Angelis acrescenta³: “Concede ao próprio Espírito a luz do discernimento capaz de clarear-te por dentro, favorecendo-te com a limpeza dos antigos escaninhos onde viviam colônias de malfeitores morais”.
Compulsando o Novo Testamento vamos encontrar explícita ou subentendida em várias passagens a palavra discernimento. Assim a encontramos em Lucas (12:46), Paulo (I cor., 2:14 e 15 e hebreus 4:12 e 5:14).
Existe um planejamento espiritual para nossas vidas, antes de reencarnarmos. Se o discernimento não pautar nosso posicionamento frente à vida, correremos o risco de recalcitrar contra essa programação tão bem elaborada. Isso está flagrantemente demonstrado em várias situações, como por exemplo4: O filho d`Alfeu, Levi, na alfândega ao ouvir de Jesus: “Segue-me”, não tergiversou; Ananias, chamado a auxiliar Paulo em sua cegueira física e espiritual, seguiu incontinenti para cumprir a missão; Jesus, sempre fidelíssimo aos desígnios do Pai, colocava em primeiro plano o cumprimento integral da Vontade Maior, a ponto de afirmar que Sua comida é fazer a Vontade do Pai, dando-nos, assim, o exemplo de objetividade, obediência, humildade e larga capacidade de discernimento...
Paulo de Tarso, por sua vez apregoa em uma de suas cartas aos Coríntios5: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm”.
Vemos hoje grandes conquistas e avanços tecnológicos, mas, por paradoxal que possa parecer, o homem conquista o Cosmos e perde, ao mesmo tempo, o endereço da própria intimidade, vez que os avanços científicos não são acompanhados pelas conquistas morais...
Devemos aclarar de vez nossa mente, arejando-a com as suaves e cariciosas brisas do Evangelho de Jesus, nosso Guia de Modelo6, de modo a sabermos escolher as veredas que nos levarão à verdadeira e imarcescível felicidade.
André Luiz nos adverte: “Não basta para nenhum de nós o contentamento de apenas hoje. É preciso saber se estamos pensando, sentindo, falando e agindo para que o nosso regozijo de agora seja também regozijo depois”.
Delfina de Giradin argumenta com propriedade7: “(...) A verdadeira desgraça está mais nas consequências de um fato do que no fato em si. Um acontecimento considerado ditoso, mas que acarreta funestas consequências é mais desgraçado do que outro que causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem”.
Assim como o carteiro organiza o seu roteiro para não ficar caminhando em círculos, mantenhamos o discernimento sempre vivo e operante para que nossas atitudes não venham a frustrar a programação tão bem elaborada no plano espiritual a fim de não recalcitrarmos contra a Vontade Maior que dirige os nossos destinos nos meandros da vida, vindo a caminhar em círculos, sem progressos na senda evolutiva...
Afirma ainda André Luiz: “Não há espetáculo externo de floração sem bastante seiva oculta. Meditação elevada, culto à prece, leitura superior e conversação edificante constituem adubo precioso nas raízes da vida”.
Sigamos, pois, nossa atual reencarnação com o farol do discernimento sempre iluminando nossas sendas, escoimando o Espírito imortal de toda jaça proveniente das escolhas indébitas, garantindo, desde já, um porvir ditoso sob as bênçãos de nosso Pai Celestial.

Rogério Coelho

[1] - I Reis, 3:9.

[2] - Mt., 7:2.
[3] - FRANCO, Divaldo. Dimensões da Verdade. 5.ed. Salvador: LEAL, 2000.
[4] - Mc., 2:14.

[5] - I Cor., 6:12.

[6] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.
[7] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. V, item 24.

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