segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ÁRVORES & FRUTOS: O remédio, antes de tudo, se dirige ao doente, o ensino ao ignorante

“(...) porque pelos frutos se conhece a árvore...”
- Jesus. (Mt., 12:33.)

Quando sinceramente nos desprendemos da vaidade e do orgulho e mergulhamos no profundo oceano do autoconhecimento, constatamos, com não pouca tristeza, apreensão e mesmo aflição, a superlativa defasagem existente entre o que somos e o que deveríamos ser...
Vislumbramos a luz, mas trazemos os pés encharcados no lodaçal de nossas ancestrais limitações e exigências materiais do “homem velho”.
Porém, para consolo nosso tal situação foi, também, experimentada pelos apóstolos do Cristianismo nascente: Paulo de Tarso chegou, inclusive a exclamar angustiado: “O Bem que eu quero fazer, não faço; mas o mal que não quero fazer, este eu faço.”
Tais perplexidades açoitaram, também, de forma impiedosa, os próprios integrantes do Colégio Apostólico. Tadeu e André, Pedro e Tiago, e inúmeros outros discípulos, ao ouvirem Jesus falar acerca da glória reservada aos bons, amarguraram-se, chegando mesmo, alguns deles, ao pranto discreto, porque conheciam a si mesmos e observavam o quanto estavam distanciados do Ideal-Cristão, e se não fosse a interferência direta e efetiva do Mestre, descoroçoariam de vez...
Sentiam - todos eles - serem portadores de um coração indisciplinado e ingrato. Embora assimilassem as explanações do Evangelho, lá fora, no trato com o mundo, na prática, não passavam de espíritos renitentes no mal. Como trabalhar em favor da Humanidade nessas condições? Eram dóceis perto de Jesus, mas, ao distanciarem-se, bastava uma palavra insignificante de incompreensão para desarmá-los. Reconheciam-se incapazes de tolerar o insulto ou a pedrada. Como prosseguir ensinando a Boa-Nova, a prática do bem, imperfeitos e maus como se viam?! Pedro chegava a espantar-se diante da coragem louca com a qual vinha abraçando os compromissos cristãos, não obstante sua grande fragilidade e a enormidade de seus débitos. Sentia-se insuficiente e incompleto para servir honestamente aos princípios sublimes do Novo Reino. Tiago chegou a dizer: “Na intimidade de minha consciência, reparo quão longe me encontro da Boa-Nova, verdadeiramente aplicada. Serei, na realidade, um discípulo sincero? Não estarei enganando o próximo?”
Para sermos coerentes com a verdade, essas questões ainda permanecem na área das cogitações dos discípulos de hoje e principalmente dos que nos dizemos espíritas.
Reportando-nos, porém, à Parábola das Bodas, vamos verificar que o dono da festa mandou convidar a todos os que fossem encontrados na encruzilhada: bons e maus. Aí entendemos por que, sendo ainda imperfeitos, fomos convidados a participar do banquete do conhecimento.
Afirmando o Espiritismo que “Fora da Caridade não há Salvação”, compete-nos, agora, apresentar os frutos sazonados de nosso trabalho na Seara do Mestre, a fim de que sejamos, além de chamados, escolhidos também.
Vai um grande pego entre ser chamado e escolhido. Naturalmente, consoante informação dos Espíritos Amigos, o Espiritismo pode “aumentar o número dos escolhidos.”
Chamados, já fomos. Perguntamos agora: Pelo nosso trabalho na Seara de Jesus, podemos afirmar com tranquilidade e certeza que seremos escolhidos? Eis a questão que, de forma preocupante, se alevanta!... Afinal, estamos ainda “aflitos e afadigados com muitas coisas” irrelevantes para nossa economia espiritual, pelas quimeras, ou já fizemos nossa opção - a exemplo de Maria, irmã de Lázaro - pela “parte boa”, isto é, “aquela que não nos será tirada” e, por conseguinte constituir-se-á em nossa carta de alforria?
Respondendo às dolorosas e aflitas perplexidades de Seus discípulos Jesus disse¹:
- “Em verdade, o paraíso com o qual sonhamos, vem muito longe”. A meu ver, os anjos, na indumentária celeste, ainda não encontram domicílio no chão áspero e escuro em que firmamos atualmente os pés. Somos os aprendizes do Bem, a caminho do Pai, e não devemos menoscabar a bendita oportunidade de crescer para Ele, no mesmo impulso da videira que se eleva para o Céu, depois de nascer no escuro seio da terra, alastrando, compassiva, para a sua destinação.
Mas, se vocês se declaram fracos, devedores, endurecidos e maus e não são os primeiros a trabalhar para se fazerem fortes, redimidos, dedicados e bons, em favor da obra geral de salvação, não me parece que os anjos devam descer da glória dos Cimos para substituir-nos nos campos das lições da Terra.
“O remédio, antes de tudo, se dirige ao doente, o ensino ao ignorante. De outro modo, penso, a Boa-Nova de Salvação se perderia por inadequada e inútil...”
Aquele que é o nosso “Guia e Modelo” afirmou²: “Eu venci o mundo”.
Imitemos, pois, o Mestre, seguindo impertérritos a árdua escalada da montanha evolutiva, no cimo da qual está a “coroa da vida para os que até ao fim permanecerem fiéis”³ e de ânimo forte.

Rogério Coelho


(1) - XAVIER, F. Cândido. Jesus no Lar. 37.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2008,  cap. 38.

(2) - João, 16:33.
(3) - Apocalipse, 2:10.

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